O novo emprego de Sergio Moro é um desastre político

Ex-juiz da Lava Jato tem o direito de aceitar o emprego que quiser, mas sua decisão enterra qualquer pretensão de se tornar presidente da República

Nesta semana, foi noticiada a ida do ex-ministro Sergio Moro para a Consultoria Alvarez & Marsal, em Washington, para atuar como diretor de compliance na área de Disputas e Investigações da empresa, que administra judicialmente a Odebrecht, uma das organizações mais afetadas pela operação Lava Jato no Brasil. Nada contra essa decisão do ex-juiz de um movimento anticorrupção no país, uma vez que é um direito que lhe pertence, a escolha de um cargo em uma empresa privada, seja aonde for. Porém, acredito que essa opção afete diretamente qualquer intenção de Moro em ocupar cargos políticos daqui para a frente, inviabilizando uma possível pretensão de candidatura à Presidência da República em 2022.

Moro comandou a Lava Jato, na 13ª Vara Federal de Curitiba, de 22 de abril de 2014 a 16 de novembro de 2018, quando pediu exoneração para assumir o cargo de ministro da Justiça no governo Bolsonaro. Durante a atuação como juiz do maior movimento de corrupção já visto no Brasil, ele determinou a prisão de vários envolvidos, iniciando o processo com o encarceramento de Alberto Youssef, doleiro investigado, desde 2000 pelo envolvimento no escândalo do Banestado e em operações de lavagem de dinheiro. Diante disso, Youssef optou por um acordo de delação premiada, em que fez declarações que levaram à descoberta de um esquema de corrupção existente na Petrobrás. Com isso, foram presos quatro presidentes de empreiteiras e quinze executivos de grandes organizações, batizando esse feito como “Juízo Final”.

Não bastando todas essas condenações e prisões em todo o país, envolvendo empresas como Camargo Corrêa, Mendes Júnior e tantas outras, a Lava Jato chegou até a Odebrecht, essa mesma empresa que é cliente da Consultoria que contratou Sergio Moro recentemente. Por essa razão, toda a polêmica que se tem levantado a respeito do caso. Na época, foi decretada a prisão de Marcelo Odebrecht, herdeiro da maior empreiteira do país, acusado de manter negócios ilegais com a Petrobrás. Nesse momento, 77 empresários, incluindo Marcelo, também optaram pela delação premiada. A seguir, em abril de 2018, foi preso o investigado mais ilustre, o ex-presidente, filiado ao PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que foi libertado em 2019, beneficiado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que dá a réus condenados o direito de responderem em liberdade até o julgamento do último recurso.

Por todas essas realizações em favor do combate à corrupção no país, a figura de Moro sempre foi cotada como uma possível alternativa às futuras eleições para Presidência da República, em 2022. Porém, a recente contratação do ex-ministro para o cargo de sócio-diretor de uma consultoria norte-americana, que tem como um de seus clientes a Odebrecht, a meu ver, coloca por água abaixo qualquer pretensão dele em fazer parte da lista de presidenciáveis. A nova empregadora do ex-juiz é especializada na reestruturação de empresas em dificuldades financeiras, na gestão de crises e em administração judicial de companhias em recuperação judicial ou que já decretaram falência. É o caso da Odebrecht, com dívidas estimadas em R$ 98,5 bilhões. Além dela, outras empresas são clientes da Alvarez & Marsal e foram julgadas por Moro: as construtoras OAS e Queiroz Galvão e a Sete Brasil, do setor de petróleo. Sabe-se que, do ponto de vista judicial, não há nenhuma irregularidade nessa escolha, mas, moralmente, tenho dúvidas. Repito: é um direito dele essa decisão, mas há consequências.

Como vivemos no Brasil, salpicaram questionamentos sobre sua opção em favor de interesses particulares, como o recente pedido de investigação à Procuradoria Geral da República pelo deputado do PT, Paulo Teixeira, a respeito da legalidade da contratação de Moro pela consultoria de Washington, o que não faz o menor sentido. Em resposta a essas insinuações do deputado, Moro declarou que, no contrato recém realizado entre as partes, há uma cláusula em que fica claro o impedimento do ex-juiz em atuar em cargos de conflito de interesses. Por outro lado, na prática, essa separação se apresenta como mera formalidade. Não há como provar isso. A preocupação é sobre a possível utilização de dados obtidos pelo ex-ministro a respeito das empresas envolvidas, que irão favorecer futuras investigações no cargo atual que ocupa Sergio Moro.

Assim, entre muitos falatórios e nenhuma prova sobre desvios éticos do ex-ministro, a escolha recente de Moro por um cargo em empresa privada faz com que fique clara sua abstenção a qualquer carreira política que pudesse estar em seu radar. Hoje, seus interesses se voltam a uma ascensão pessoal, com baixíssimo envolvimento político. Quem agradece é o presidente Jair Bolsonaro, visto que uma candidatura de Sergio Moro poderia criar a “alternativa de centro” que muitos buscam atualmente. Quem também ficou muito feliz com essa história foi o governador João Doria, enxergando o espectro político central do Brasil com um concorrente de peso a menos. Resta desejar sorte ao ex-ministro em sua nova carreira e aguardar o clareamento do cenário político para 2022. Mas de uma coisa, estou certo: Moro está fora do tabuleiro.

Fonte: Jovem Pan (Por Paulo Mathias)

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