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Novembro Negro: A Capoeira, os Negros e as Raízes de Cuiabá

*Por Mestre Veto: Ewerton Aparecido Moreira Salgado, Mestre em Capoeira, Gestor Público, Presidente da Federação Matogrossense de Capoeira.

Mês de Consciência, Memória e Resistência, novembro é o mês em que o silêncio é quebrado pelo pulsar da ancestralidade. O Novembro Negro nos chama a erguer a voz e a alma, em reverência aos ancestrais africanos que, com sua coragem e força, ajudaram a construir o Brasil, especialmente o nosso Mato Grosso.

Em Cuiabá, cidade de mais de 300 anos, essa memória não está apenas escrita nos livros, mas vive na ginga da Capoeira, no toque do berimbau, no sabor da culinária quilombola e na fé nas religiões de matriz africana, que resistem e florescem à sombra das antigas capitanias e lavras de ouro.

Raízes Negras e Indígenas: A Alma Entrelaçada de Cuiabá

A alma cuiabana é fruto do encontro sagrado entre os ancestrais negros, indígenas e europeus — um entrelaçamento que forjou um modo único de ser e existir. À beira do rio Cuiabá, onde os primeiros quilombos firmaram suas raízes, e nas trilhas dos antigos garimpos, nasce uma cultura que pulsa vida.

A Capoeira é mais que dança ou luta; é um patrimônio de resistência política e cultural. Os corpos negros que um dia foram açoitados pelo chicote agora se movem com poesia e revolução, cada ginga uma narrativa de luta e afirmação.

Personagens da Resistência Cuiabana: Vozes que Ecoam Entre os nomes que gravitam a história de Cuiabá, destacam-se mulheres e homens que encarnaram a luta pela liberdade e pela dignidade. Mãe Bonifácia, guerreira dos interiores, cuidava dos doentes de varíola com fé que curava mais que corpos, curava almas. Seu nome é eternizado no maior parque da cidade, um espaço de memória e resistência.

Maria Taquara, símbolo da liberdade feminina, ousou expulsar o conservadorismo ao vestir calça jeans — gesto radical que abriu caminho para muitas outras.

Já Zé Bolo Flô, malandro que mais do que esperteza, tinha no seu humor a arma contra as injustiças de uma Cuiabá marcada pela desigualdade, mantém viva a sabedoria do povo simples, resistente e criativo.

A Capoeira em Mato Grosso: Histórias que São Lendas e Vida

A Capoeira encontrou em Mato Grosso terreno fértil para florescer como arte da resistência. Na Rua 24 de Outubro onde Rochinha ministrava aulas a Edmundo Souza, Mestre Eron, filho da bola e das ruas, descobriu na Capoeira sua missão. E o Mestre Sombra, figura quase mitológica, com histórias de bravura — como a luta em um circo contra dois adversários simultâneos — é a personificação da persistência do povo negro.

O visionário Mestre Lídio, Mestre Cris Bantu e Mestre Carivaldo foram além e fundaram a Federação Matogrossense de Capoeira, dando uma forma organizativa à luta, não apenas pela sobrevivência, mas pela afirmação de identidade e cultura.

Mestres como Demétrius e Raiovac que levam hoje o legado cuiabano mundo afora, mostrando que nossa Capoeira é uma linguagem universal de liberdade e resistência.

Capoeira: a Arte Negra que Transforma Vidas

Mesmo sendo uma das expressões culturais mais ricas do Brasil, a Capoeira ainda não recebe o valor que merece. Nas escolas, universidades e até nos quartéis de muitos países, ela é reconhecida por tirar crianças e jovens da exclusão, ensinar disciplina e orgulho da identidade. Levando a língua portuguesa pelo mundo, a Capoeira tem sua história também de resistência contra a marginalização, um ensino vivo de que a luta nunca acaba. Ecoa uma pergunta que reverbera na roda: por que ainda não está nas Olimpíadas? Por que não é valorizada? Seria a arte menos culpada ou a política mais omissa?

Conclusão – A Roda Continua, Forte e Viva, Vivemos um mundo em que as sombras do passado teimam em retornar. Migalhas de reconhecimento são oferecidas, mas a roda da Capoeira gira com força redobrada. O berimbau sobe em um clamor ancestral. O corpo negro, que tentou calar, responde com dança, música e a firme marcha da resistência. Que este Novembro Negro seja mais que datas no calendário — que seja um chamado à ação, à valorização e à justiça. Que a Capoeira, espelho do povo negro, continue sendo o círculo onde se renova a vida e o sonho de liberdade.

*Mestre Veto – Ewerton Aparecido Moreira Salgado – Pesquisador e Mestre em Capoeira | Gestor Público | Administrador | Sargento da olícia Militar | Estudante de Educação Física e Presidente da Federação Matogrossense de Capoeira

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